segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cientistas reveem história de Marte


(Voz da Rússia) Uma pesquisa recente mostra que Marte nunca teve uma época quente prolongada. As temperaturas se mantiveram durante muito tempo no Planeta Vermelho abaixo do ponto de congelação e os períodos em que correram rios eram curtos.

Para que a água se mantivesse em Marte em estado líquido, sua superfície deveria estar bem aquecida, o que é impossível sem um efeito estufa e sem uma atmosfera densa. O planetólogo Edwin Kite, ao estudar fotografias de crateras em Marte, calculou a densidade da antiga atmosfera do planeta. Desse parâmetro depende, em grande medida, se os meteoritos que caem, especialmente os de dimensões reduzidas, vão deixar crateras ou desintegrar-se ainda em voo.

Ao estudar as imagens de mais de 300 crateras, Kite chegou à seguinte conclusão: a antiga atmosfera era mais densa que a atual em 150 vezes. Dito de outra forma, sua pressão era quase igual à da atmosfera na Terra. Contudo, o Planeta Vermelho está mais longe do Sol que a Terra. Logo, aí faz muito mais frio. Também o Sol há três bilhões de anos tinha uma luz menos intensa. Para que a água não congelasse nessas condições, a densidade atmosférica deveria ser ainda pelo menos três vezes superior. Então como terão surgido os leitos secos de cursos de água? Na versão de Kite, terá havido alguns aquecimentos: durante a atividade vulcânica, depois da queda de grandes asteroides ou durante o deslocamento dos polos.

Este estudo permite ver a uma nova luz a história do planeta: através das estatísticas das crateras dos meteoritos, explica o astrônomo Vladimir Surdin:

“O fato de Marte apresentar pequenas crateras revela que ao longo da maior parte da sua história não existiu uma atmosfera densa. Mas não é menos importante o fato de observarmos vestígios de cursos de água – de leitos de rios, de desfiladeiros e de torrentes de lama. Todos esses leitos estão vazios. Hoje eles não apresentam, nem poderiam apresentar, água em estado líquido – a pressão atmosférica e a a temperatura são demasiado baixas. Seria interessante saber ao longo de quanto tempo existiu água no planeta. Quase todo seu hemisfério norte foi em tempos um mar. Se trata de uma antiga superfície marítima, o que significa que não podemos descartar totalmente a ideia de um Marte úmido.”

No período mais recuado da história do planeta os acontecimentos ocorreram de uma forma bastante acelerada, continua o cientista:

“A Terra possuiu atmosfera ao longo de bilhões de anos, mas em parte esse período pode ter sido curto: ele perdeu rapidamente seu campo magnético e sua atmosfera densa. A questão é se durante esse curto período aí poderia ter surgido vida. Neste momento não pode existir vida na sua superfície, tendo ela uma radiação forte e sendo seca e fria. Mas sob a superfície a vida poderia se esconder e sobreviver até aos nossos dias.”

Na profundidade do solo marciano a temperatura é mais elevada que na superfície. É provável que aí permaneçam lençóis freáticos, restos de um oceano quente. Nestes podem existir microrganismos, supõe o astrônomo Serguei Smirnov:

“Se a vida surgiu e prosperou, então ela deveria se ter ocultado nas profundezas. Na minha opinião, a vida em Marte nunca se terá interrompido, apesar de ter recuado para as profundezas, onde existe uma camada com uma temperatura bastante confortável do ponto de vista humano. Ou seja, perto dos zero graus Celsius.”

Segundo a versão dos planetólogos, Marte terá perdido uma grande parte da sua água e atmosfera devido ao seu campo magnético ter ficado muito enfraquecido, e que anteriormente obrigava o “vento solar” a contornar o planeta. Tendo perdido essa proteção, as partículas de gases e de vapor de água teriam sido gradualmente varridas para o espaço. Porque terá isso ocorrido com o campo magnético e quantas vezes terá o clima alterado, isso poderá ser esclarecido com recurso a uma nova geração de aparelhos.
Na opinião de Vladimir Surdin, o estudo da história de Marte está apenas começando, e irão decorrer décadas até ela obter um aspeto mais ou menos coerente.
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E mais:
Antiga atmosfera marciana sugere um passado demasiado frio e seco em Marte (AstroPT)

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