segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Encontros imediatos com Vénus
(Euronews) É no Observatório astronómico de Paris que viemos olhar com atenção para um vizinho muito peculiar – Vénus. Um planeta onde o Sol nasce a oeste e se põe a este, e onde um dia dura quase um ano.
Fundado em 1667, o Observatório de Paris dispõe de inúmeros instrumentos de estudo do sistema solar. Alguns são objetos de particular valor, como nos mostra o cientista Thomas Widemann: “Temos aqui um exemplar único do Revólver Fotográfico de Janssen. É um instrumento que foi concebido neste observatório para acompanhar o movimento de Vénus em 1874 e 1882.”
Mas nem só de passado se faz o Observatório de Paris. Thomas Wideman contribui para os avanços da ciência espacial, tendo-se tornado num especialista num planeta muito particular. “Vénus e Terra são planetas-irmãos. A sua formação ocorreu na mesma parte do sistema solar – são ainda mais próximos do que Terra e Marte -, com os mesmos ingredientes primitivos, os mesmos gases. As mesmas rochas circulavam à sua volta. E, no entanto, são dois planetas que tiveram destinos completamente diferentes.”
Ou seja, os primórdios são quase idênticos. Mas Vénus é agora um planeta seco, envolvido numa sufocante atmosfera composta por ácido sulfúrico e dióxido de carbono. “Tem uma atmosfera muito densa, com 97% de dióxido de carbono, o efeito de estufa é enorme. A temperatura à superfície é de mais de 450 graus Celsius. A pressão é de 92 bars, quase cem vezes mais do que na Terra. Digamos que é um sítio muito desagradável para se estar”, explica Håkan Svedhem, da missão Venus Express.
Desagradável e desalinhado – é o único planeta que tem uma rotação inversa à dos ponteiros do relógio. E há mais: “Vénus é o único planeta no sistema solar que leva mais tempo a efetuar a rotação sobre o seu próprio eixo do que à volta do Sol. Isto é, um dia em Vénus dura 243 dias, enquanto que a rotação em torno do Sol leva 224 dias”, afirma o coordenador da Venus Express, Michel Breitfellner.
Em 2005, a Agência Espacial Europeia lançou a Venus Express, uma nave de observação. Após oito anos a sondar acima das nuvens, a missão transitou para a aerotravagem, fazendo o aparelho descer através da atmosfera para o ponto mais baixo da órbita.
A manobra de aerotravagem proporcionou, pela primeira vez, uma perspetiva da camada superior da atmosfera de Vénus. Pode dizer-se que as conclusões não eram as esperadas. “Não estávamos à espera de variações na pressão, como se a atmosfera fosse varrida por ondas. Não prevíamos uma estrutura que indicasse vagas. Analisar estes dados vai manter os cientistas ocupados durante algum tempo”, antevê Merritt.
Há ainda um outro puzzle por resolver: os ventos em Vénus estão a tornar-se cada vez mais rápidos. Håkan Svedhem revela que “quando chegámos a Vénus, há oito anos, encontrámos ventos muito rápidos, de 300 quilómetros por hora. Mas, ao longo dos anos, aquilo que aconteceu foi que eles aumentaram de velocidade. Já detetámos ventos de 400 quilómetros por hora e não conseguimos explicar o que é que mudou.”
Os enigmas não ficam por aqui. Uma das muito raras fotografias de Vénus, tirada pela sonda russa Venera 13, não revela nenhum vulcão, mas mostra várias rochas vulcânicas. Thomas Widemann considera que “à escala da história do sistema solar, a superfície de Vénus é relativamente jovem. Para nós, é contraditório não existir atualmente qualquer atividade vulcânica ou tectónica e haver esta superfície que nos parece relativamente jovem. Se calhar, estamos perante processos geológicos muito raros, mas muito poderosos, muito violentos, que redefinem a superfície através de catástrofes. Uma espécie de processo de renascimento da crosta do planeta.”
O que terá então acontecido a Vénus para se tornar num ambiente tão hostil? Teorias não faltam. Segundo Michel Breitfellner, “durante a existência inicial do planeta, pode ter havido uma catástrofe de grandes proporções, provocada pela colisão de um grande objeto, que terá interrompido a rotação. Esse pode ter sido o ponto de viragem na vida de Vénus.”
As informações recolhidas pela Venus Express podem vir ainda a dar-nos mais pistas. Entretanto, o fascínio pelos mistérios de Vénus continua. “É o planeta mais brilhante do céu. É a luz mais forte a seguir ao Sol e à Lua. É um planeta que faz parte do património cultural da Humanidade. É este brilho especial, o impacto cultural… é a personalidade de Vénus que mais me fascina. Mais ainda do que os motivos científicos de que falámos”, salienta Thomas Widemann.
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