sexta-feira, 4 de julho de 2014

Oceano em lua de Saturno pode ser tão salgado quanto o Mar Morto


(Astronomia On Line - Portugal) Cientistas que analisavam dados da missão Cassini da NASA têm evidências firmes de que o oceano dentro da maior lua de Saturno, Titã, pode ser tão salgado como o Mar Morto da Terra.

Os novos resultados vêm de um estudo de dados gravimétricos e topográficos recolhidos durante passagens rasantes e repetidas por Titã ao longo dos últimos 10 anos. Com os dados da Cassini, os investigadores apresentaram um modelo da estrutura de Titã, resultando numa melhor compreensão da concha gelada e exterior da lua. Os resultados foram publicados na revista Icarus desta semana.

"Titã continua a revelar-se como um mundo infinitamente fascinante, e com a longa vida da Cassini, estamos a desbloquear novos mistérios tão rapidamente quanto resolvemos os antigos," afirma Linda Spilker, cientista do projecto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, no estado americano da Califórnia, que não esteve envolvida no estudo.

Achados adicionais suportam as indicações anteriores de que a crosta gelada da lua é rígida e está no processo de congelamento sólido. Os cientistas descobriram que, a fim de explicar os dados da gravidade, é necessária uma densidade relativamente alta para o oceano de Titã. Isto indica que o oceano é provavelmente muito salgado, sais estes compostos possivelmente por enxofre, sódio e potássio. A densidade indicada daria ao oceano um teor de sal equivalente aos corpos mais salgados de água na Terra.

"Este é um oceano extremamente salgado para os padrões da Terra," afirma o autor principal do artigo, Giuseppe Mitri da Universidade de Nantes, na França. "Estes dados podem mudar o modo como vemos este oceano (possível morada para vida actual), mas as condições podem ter sido muito diferentes no passado."

Os dados da Cassini também indicam que a espessura da crosta gelada de Titã varia um pouco de lugar para lugar. Os cientistas afirmam que isto pode ser melhor explicado com uma concha exterior dura, como seria o caso se o oceano estivesse a cristalizar lentamente, tornando-se gelado. De outro modo, a forma da lua tende a nivelar-se ao longo do tempo, como cera quente numa vela. Este processo de congelamento teria importantes implicações para a habitabilidade do oceano de Titã, uma vez que limitaria a capacidade dos materiais para alternar entre a superfície e o oceano.

Segundo o estudo, uma outra consequência da concha rígida de gelo, é que qualquer libertação de metano para a atmosfera de Titã deve acontecer em "pontos quentes" dispersos - como os pontos quentes na Terra que deram origem à cadeia de ilhas havaianas. O metano em Titã não parece ser resultado de convecção ou de placas tectónicas que reciclam a sua carapaça de gelo.

Há muito que os cientistas têm grande interesse pelo modo como a atmosfera de Titã recebe o seu metano, pois as moléculas deste gás são quebradas pela luz solar em escalas curtas de tempo geológico. A atmosfera actual de Titã contém cerca de 5% de metano. Isto significa que algum processo, que se pensa ser de natureza geológica, está a repor o gás. O estudo indica que qualquer que seja o responsável pelo processo, a restauração do metano de Titã é localizada e intermitente.

"O nosso trabalho sugere que a procura de sinais da libertação de metano vai ser difícil com a Cassini, e poderá exigir uma missão futura para encontrar fontes localizadas de metano," afirma Jonathan Lunine, cientista da missão Cassini da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque, co-autor do artigo. "Tal como em Marte, esta é uma tarefa complicada."
----
Matéria similar na Exame

Nenhum comentário:

Postar um comentário