quarta-feira, 25 de junho de 2014

Misteriosa "ilha mágica" aparece em lua de Saturno



Ligeia Mare, o segundo maior mar da lua de Saturno, Titã. Na imagem de baixo, note o misterioso e brilhante objecto que apareceu e que não era visível na primeira imagem. Crédito: NASA/JPL-Caltech/Cornell


(Astronomia On Line - Portugal) Os astrónomos descobriram um objecto geológico misterioso e brilhante - onde antes não existia - em imagens de radar da sonda Cassini de Ligeia Mare, o segundo maior mar na lua de Saturno, Titã. Cientificamente falando, este local é considerado uma "característica transitória", mas os astrónomos apelidaram-na humoristicamente de "Ilha Mágica".

Na edição de 22 de Junho da revista Nature Geoscience, os cientistas dizem que esta pode ser a primeira observação de processos geológicos dinâmicos no hemisfério norte de Titã. "Esta descoberta diz-nos que os líquidos no hemisfério norte de Titã não estão simplesmente estagnados nem são imutáveis, mas que ocorrem mudanças," afirma Jason Hofgartner, estudante graduado de Cornell, no campo de ciências planetárias, e o autor principal do estudo. "Nós não sabemos exactamente o que provocou o aparecimento desta 'ilha mágica', mas gostaríamos de estudá-la ainda mais."

Titã, a maior das 62 luas conhecidas de Saturno, é um mundo de lagos e mares. A lua - mais pequena que o nosso próprio planeta - tem muitas semelhanças com a Terra: líquidos à superfície, ventos e chuvas que levam à criação de paisagens surpreendentemente familiares. Sob a sua espessa atmosfera de azoto-nitrogénio, os astrónomos descobriram montanhas, dunas e lagos. Mas, em vez de água, metano e etano líquido correm através de canais parecidos a rios até mares do tamanho dos Grandes Lagos no continente americano da Terra.

Para descobrir esta característica geológica, os astrónomos contaram com uma técnica antiga - alternância fotográfica. A sonda Cassini enviou dados a 10 de Julho de 2013 para o JPL (Jet Propulsion Laboratory) do Instituto de Tecnologia da Califórnia para processamento de imagens. Em poucos dias, Hofgartner e colegas alternaram entre imagens mais antigas de Titã e as imagens recém-processadas em busca de quaisquer indícios de mudanças. Este é um método de longa data usado para descobrir asteróides, cometas e outros mundos. "Com a alternância, o olho humano é muito bom a detectar mudanças," comenta Hofgartner.

Antes da observação de Julho de 2013, esta região de Ligeia Mare estava completamente desprovida de características (incluindo ondas).

As estações de Titã mudam ao longo de uma maior escala de tempo que as da Terra. O hemisfério norte da lua está em transição do equinócio vernal, ou Primavera (Agosto de 2009), para o solstício de Verão (Maio de 2017). Os astrónomos pensam que esta característica estranha pode resultar da mudança de estações.

À luz das mudanças, Hofgartner e os outros autores especulam sobre quatro razões para este fenómeno:

Os ventos do hemisfério norte podem estar a aumentar de velocidade e a formar ondas em Ligeia Mare. O sistema de imagem por radar pode ver as ondas como uma espécie de ilha "fantasma".

Podem surgir gases do fundo de Ligeia Mare, subindo até à superfície como bolhas.
Sólidos submersos formados por um congelamento de inverno podem tornar-se flutuantes com as temperaturas mais quentes do final da Primavera em Titã.

Ligeia Mare tem sólidos em suspensão, que não estão nem submersos nem são flutuantes, mas agem como uma espécie de lodo num delta terrestre.

"Provavelmente, vários diferentes processos - como vento, chuva e marés - podem afectar o metano e o etano nos lagos de Titã. Nós queremos ver as semelhanças e diferenças entre os processos geológicos que ocorrem aqui na Terra," salienta Hofgartner. "Em última análise, vai ajudar-nos a compreender melhor os nossos próprios ambientes líquidos aqui na Terra."
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