terça-feira, 24 de junho de 2014

Curiosity celebra primeiro ano marciano com sucessos da missão



(Astronomia On Line - Portugal) O rover Curiosity da NASA completa hoje um ano marciano - 687 dias terrestres, e já atingiu o objectivo principal da missão, determinar se Marte já teve condições ambientais favoráveis à vida microbiana.

Uma das primeiras grandes descobertas do Curiosity, após ter pousado no Planeta Vermelho em Agosto de 2012, foi um leito antigo no seu local de aterragem. Perto daí, numa área conhecida como Yellowknife Bay, a missão atingiu o seu objectivo principal de determinar se a Cratera Gale já tinha sido habitável para formas de vida simples. A resposta, um histórico "sim", veio de duas lajes de argila onde o rover recolheu amostras com a sua broca. A análise destas amostras revelou que o local já foi um lago com os ingredientes elementares essenciais para a vida, e um tipo de fonte de energia usada por alguns micróbios da Terra. Se Marte teve no seu passado organismos vivos, este seria um bom lar para eles.

Outras conclusões importantes durante o primeiro ano marciano incluem:

A avaliação dos níveis naturais de radiação, tanto durante o voo até Marte como à superfície marciana, fornece uma orientação para o desenho da protecção necessária para missões humanas a Marte.

Medições de variações pesadas vs. leves de elementos na atmosfera marciana indicam que muita da atmosfera primitiva de Marte desapareceu por processos que favorecem a perda de átomos mais leves, como por exemplo a partir da parte superior da atmosfera. Outras medições determinaram que a atmosfera contém muito pouco metano, se é que algum, um gás que pode ser produzido biologicamente.

As primeiras determinações da idade de uma rocha em Marte e quanto tempo esteve exposta à radiação prejudicial fornecem perspectivas para descobrir quando a água fluiu à superfície e para avaliar a taxa de degradação de compostos orgânicos em rochas e nos solos.

O Curiosity parou na sua viagem esta Primavera para perfurar e recolher uma amostra num local chamado Windjana. O rover transporta actualmente um pouco desta amostra aí recolhida para análise posterior.

"Windjana tem mais magnetita do que as amostras anteriores já analisadas," afirma David Black, investigador principal do instrumento CheMin (Chemistry and Mineralogy) do Curiosity, do Centro de Pesquisa Ames da NASA em Moffett Field, no estado americano da Califórnia. "Uma questão-chave é descobrir se esta magnetita é um componente do basalto original ou se é resultado de processos posteriores, como aconteceria em sedimentos basálticos dentro de água. A resposta é importante para a nossa compreensão da habitabilidade e da natureza do ambiente passado de Marte."

Indicações preliminares salientam que a rocha contém uma mistura mais diversificada de minerais argilosos do que a encontrada nas rochas previamente perfuradas durante a missão, os alvos de Yellowknife Bay. Windjana também contém uma quantidade inesperadamente alta do mineral ortoclase. Este é um feldspato rico em potássio, que é um dos minerais mais abundantes na crosta terrestre e que antes nunca tinha sido definitivamente detectado em Marte.

Este achado implica que algumas rochas na orla da Cratera Gale, a partir das quais se pensa que os arenitos em Windjana tenham derivado, possam ter passado por alguns processos geológicos complexos, como por exemplo episódios múltiplos de fusão.

"É demasiado cedo para conclusões, mas esperamos que os resultados ajudem-nos a ligar o que aprendemos em Yellowknife Bay com o que vamos aprender no Monte Sharp," afirma John Grotzinger, cientista do projecto Curiosity do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena. "Windjana está ainda dentro da área onde um rio corria. Nós vemos sinais de uma história complexa de interacção entre água e rocha."

O Curiosity deixou Windjana em meados de Maio e está agora dirigindo-se para Oeste. Percorreu cerca de quilómetro e meio em 23 dias de condução e o odómetro regista agora 7,9 quilómetros.

Desde que os danos nas rodas provocaram uma desaceleração na condução no final de 2013, que a equipa da missão ajustou os percursos e os métodos de condução para reduzir a taxa de danificação.

Por exemplo, a equipa da missão rectificou a rota planeada para destinos futuros na encosta inferior de uma área chamada Monte Sharp, onde os cientistas esperam que as camadas geológicas tragam respostas sobre ambientes antigos. Antes do Curiosity aterrar, os cientistas antecipavam que o rover precisaria de alcançar o Monte Sharp para atingir o objectivo de determinar se este ambiente antigo era favorável para a vida. Eles descobriram a resposta muito mais perto do local de aterragem. Os achados até agora elevaram a fasquia do trabalho que têm pela frente. No Monte Sharp, a equipa da missão procurará evidências não só de habitabilidade, mas também de como os ambientes evoluíram e que condições favoreceram a preservação de pistas sobre se lá existiu vida.

A porta de entrada para a montanha é uma lacuna numa faixa de dunas no flanco norte da montanha que está aproximadamente 3,9 km em frente da posição actual do rover. O novo percurso levará o Curiosity por areais bem como por solo rochoso. O mapeamento do terreno, com a ajuda da sonda MRO da NASA, permite o planeamento de rotas mais seguras, embora mais longas.

A equipa espera que terá de se adaptar continuamente às ameaças que o terreno representa para as rodas do rover, mas não prevê que sejam um factor determinante na duração da vida operacional do Curiosity.

"Estamos fazendo algumas viagens longas usando o que aprendemos," afirma Jim Erickson, gestor do projecto Curiosity no JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA. "Quando estamos explorando outro planeta, há que esperar surpresas. As rochas afiadas foram uma má surpresa. Yellowknife Bay foi uma boa surpresa."
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