quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Uma visão diferente de Saturno


(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) A sonda Cassini, em órbita de Saturno desde 2004, tem estudado o gigante dos anéis e seu sistema de luas continuamente. A Cassini já nos revelou tempestades acontecendo na atmosfera superior de Saturno e detalhes da superfície de Titã, através de imagens de radar.

Um dos objetivos principais da sonda é, por incrível que pareça, medir o tempo de rotação deste planeta. Por ser coberto de nuvens, fica muito difícil de marcar um ponto e simplesmente contar o tempo que leva para ele reaparecer depois do planeta dar uma volta em torno de si. A solução, para casos como esses, é notar o padrão de repetição do campo magnético do planeta, medindo o intervalo de tempo entre eles.

O resultado é que segundo a Cassini, o período de rotação de Saturno é de 10 horas, 45 minutos e 45 segundos. Isso é uns 6 minutos a mais que o período obtido pelas sondas Voyager em 1980 e 1981. Segundo Michael D. Desch, da NASA, não é o caso do planeta como um todo estar se desacelerando, mas sim que o mecanismo que gera o campo magnético de Saturno está se modificando. Segundo ele, a rotação desse campo é mais parecida com o campo magnético do Sol, cuja velocidade de rotação varia segundo sua latitude, do que com o campo da Terra em que esse efeito não ocorre. Desch sugere que o campo magnético como um todo esteja ‘escorregando’ em relação às partes centrais de Saturno.

Apesar desse resultado ter lançado mais perguntas do que respostas em relação ao problema do campo magnético, a sonda conseguiu resolver uma controvérsia de quase 3 décadas. Depois das passagens das Voyagers, as medidas da rotação de Saturno foram feitas por rádio da Terra e todas elas davam resultados discrepantes, mostrando esse aumento bizarro.

Os dados em rádio da Cassini que propiciaram a medida mais recente da rotação estão disponíveis aqui. Os dados foram convertidos em sons e acelerados, de modo que é possível ouvir um pulso a cada 1 segundo, que na verdade corresponde a uma rotação de Saturno.

Além desse monitoramento em rádio, a sonda conta com câmeras e espectrógrafos operando na luz visível e no infravermelho. Cada um mostrando aspectos diferentes do planeta. Por exemplo, na luz visível, o que percebemos de Saturno é tudo o que vemos da reflexão da luz do Sol, já que o planeta não gera luz. Mas no caso do infravermelho não. Como o planeta tem calor interno, por causa do movimento de seus gases, ele emite radiação térmica que pode ser captada no infravermelho. Com esse tipo de dado, podemos estudar outros aspectos da atmosfera e do sistema de anéis de Saturno, tais como sua composição química, por exemplo.

E as últimas imagens divulgadas pela NASA são justamente das câmeras no infravermelho. Elas foram obtidas “por trás” de Saturno, isto é, no momento que o planeta ocultava o Sol, o que seria o lado escuro de Saturno. Se fosse no visível, não se veria muita coisa, mas no infravermelho a coisa é diferente. Muito diferente!

Deste ponto de vista, podemos observar os anéis mais fracos, pois eles são iluminados por trás. Quando pequenas partículas são iluminadas deste jeito, elas brilham com um aspecto “leitoso”, tal como neblina iluminada por faróis de carro. Por outro lado, anéis que são brilhantes no visível, por que são compostos por pedaços de gelo de água densamente distribuídos, vão aparecer como faixas escuras justamente por bloquear a luz do Sol.

Tudo isso aparece nessa imagem divulgada ontem. Além do sistema de anéis, podemos notar que o planeta brilha em vermelho! Isso é efeito da radiação térmica gerada em seu interior, mais proeminente em comprimentos de onda mais longos.

Essa imagem tem aproximadamente 540 mil km de comprimento (quase 2 vezes a distância Terra-Lua) e 16 mil km de largura. Ela faz parte de um mosaico maior, que ainda está sendo processado e suas cores foram codificadas de modo a representar o que veríamos se pudéssemos enxergar no infravermelho.

A sonda Cassini já está fazendo hora extra, ela está em sua missão estendida após ter cumprido os objetivos iniciais da missão. Que permaneça assim durante muito tempo!

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