O polo norte do asteroide Eros, em imagem da Nasa. A grande cratera tem 4 km. AP
(Associated Press / Estadão) Pousar um homem na Lua foi uma conquista enorme. Agora, o presidente dos Estados Unidos deu à Nasa uma tarefa ainda mais difícil, com uma certa aura de ficção científica hollywoodiana: enviar astronautas a um asteroide, uma gigantesca rocha em movimento, dentro de 15 anos.
Especialistas dizem que essa viagem pode consumir vários meses e implicar perigos muito maiores que um pouso na Lua. "De fato, é a coisa mais difícil que poderíamos fazer", disse o administrador da Nasa, Charles Bolden, ele mesmo um ex-astronauta.
Ir a um asteroide pode oferecer treinamento essencial para uma viagem a Marte. Pode ajudar a desvendar os segredos da origem do Sistema Solar. E pode dar à humanidade o know-how necessário para fazer algo que até agora tem sido exclusividade dos heróis de ação do cinema: salvar a Terra de uma colisão com um asteroide assassino.
"Você pode estar salvando a humanidade. Vale a pena, não?", disse Bill Nye, um apresentador de programas de TV de educação científica e vice-presidente da Planetary Society.
O presidente Barack Obama delineou sua nova política espacial durante uma visita ao Centro Espacial Kennedy, na quinta-feira.
"Por volta de 2025, esperamos que novas naves espaciais projetadas para longas jornadas permitam-nos iniciar as primeiras missões tripuladas além da Lua e para o espaço profundo", disse ele. "Começaremos enviando astronautas para um asteroide pela primeira vez na história".
No dia em que o presidente fazia o anúncio, uma força-tarefa de cientistas, engenheiros e ex-astronautas reunia-se em Boston para proteger a Terra de uma colisão cataclísmica com um cometa ou asteroide.
A Nasa rastreia cerca de 7.000 objetos que passam perto da Terra e que são maiores que alguns metros de diâmetro. Desses, 1.111 são "asteroides potencialmente perigosos". Objetos com mais de 1 km são grandes assassinos e atingem a Terra a intervalos de centenas de milhares de anos.
Pesquisadores acreditam que um asteroide de pouco menos de 10 km de diâmetro deu cabo dos dinossauros há 65 milhões de anos.
Pousar num asteroide e alterar sua trajetória de forma controlada "demonstraria de uma vez por todas que somos mais espertos que os dinossauros e podemos evitar o que eles não puderam", disse o conselheiro científico da Casa Branca, John Holdren.
Especialistas ainda não têm um asteroide específico em mente para a viagem ao espaço profundo, mas há algumas dezenas de bons candidatos, a maioria dos quais passa a cerca de 8 milhões de quilômetros da Terra. Isso 20 vezes mais longe que a Lua.
A maioria dos principais asteroides candidatos tem menos de 400 metros de diâmetro. A Lua, em comparação, tem mais de 3.000 km.
Ir a um asteroide poderá oferecer pistas sobre a formação do Sistema Solar, porque asteroides são essencialmente fósseis de 4,6 bilhões de anos atrás, quando os planetas surgiram, disse Don Yeomans, gerente do Programa de Objetos próximos à Terra do Laboratório de Propulsão a Jato.
E uma missão a um asteroide poderia ser um campo de treino para Marte, dada a distância e o ambiente alienígena. "Se os seres humanos não conseguirem chegar aos objetos próximos à Terra, não conseguirão ir a Marte", disse o professor de astronáutica do MIT, Ed Crawley.
Além disso, asteroides contêm substâncias como hidrogênio, carbono, ferro e platina, que poderiam ser usadas pelos astronautas para produzir equipamentos e combustível. A capacidade de explorar esses recursos naturais poderá ser essencial em Marte.
Embora a Apollo 11 tenha levado oito dias para chegar à Lua e voltar, em 1969, uma missão de ida e volta a um asteroide próximo consumiria cerca de 200 dias, disse Crawley. Isso irá exigir novas tecnologias de suporte de vida e propulsão. E será mais perigoso. Uma emergência que interrompa a missão deixaria os astronautas no espaço por semanas.
A agência espacial poderá ter de desenvolver aposentos especiais, escudos de radiação e outras tecnologias para permitir que os astronautas vivam no espaço profundo por tanto tempo, disse o principal executivo de tecnologia da Nasa, Bobby Braun.
Mesmo com o asteroide mais distante que a Lua e com uma viagem maior, o consumo de combustível será bem menor e a jornada custará menos que um pouso lunar, porque não será preciso lutar contra uma atração gravitacional significativa no retorno.
Por outro lado, a falta de gravidade tona impossível pousar no asteroide. A nave teria de se manter em um curso paralelo e os astronautas teriam de fazer uma caminhada espacial até a superfície.
Uma vez lá, eles precisariam de uma combinação de foguetes pessoais, redes e equipamentos de alpinismo para se deslocar sem sair á deriva pelo espaço, disse Yeomans.
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