terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Ex-criador de gado agora projeta sondas para a Nasa
(Folha) Depois de administrar uma fazenda com 1.200 cabeças de gado nelore e ajudar a colocar um jipe robótico em Marte, o brasileiro Ivair Gontijo está envolvido com uma iniciativa ainda mais ambiciosa.
Trata-se do sobrevoo de Europa, uma das luas de Júpiter, cujo ambiente gélido talvez seja, paradoxalmente, propício a formas simples de vida.
"Pousar lá seria muito complicado por causa da atividade eletromagnética extremamente intensa gerada por Júpiter. Por enquanto, o sobrevoo é a melhor opção", declarou Gontijo à Folha.
Se tudo der certo, a nave Clipper, projetada pela Nasa, onde o pesquisador trabalha, chegará ao satélite em 2029.
Ele contou detalhes do projeto em visita à Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP). Apesar da formação como técnico agropecuário em Bambuí (MG), o que lhe permitiu administrar uma propriedade rural no norte de Minas por três anos, não foi isso o que o trouxe à Embrapa.
"Na verdade, o convite veio por causas dos instrumentos a bordo do veículo Curiosity em Marte", explica ele.
Ocorre que o jipe-robô da Nasa possui sensores dedicados à análise química de rochas e solos, o que interessa à instituição brasileira, pois tal conhecimento pode ser aplicado para avaliar a fertilidade de fazendas terráqueas. Pesquisadores da Embrapa chegaram a criar uma versão nacional do jipe marciano.
Gontijo, que depois do curso técnico em agropecuária foi estudar física na UFMG e fez doutorado em engenharia elétrica pela Universidade de Glasgow (Escócia), trabalhou no radar que controlou a descida do Curiosity em Marte.
O jipe-robô está por lá desde agosto de 2012. Ele e seus antecessores já mandaram para a Terra grande quantidade de dados sobre o passado "molhado" de Marte, indicando que o planeta já teve água no estado líquido por longos períodos em sua superfície.
Sinais inequívocos de vida no planeta, atual ou passada, continuam escapando aos cientistas, porém.
"Água e fontes de energia nós sabemos que existem lá. O problema é a falta de compostos orgânicos. É complicado", diz. A expectativa é que missões das próximas décadas tragam amostras de Marte para a Terra, o que permitiria análises detalhadas do solo em busca de sinais de vida.
Já Europa está coberta por gelo com fissuras, abertas pela atração gravitacional de Júpiter. "Isso é suficiente para esfregar as placas de gelo, gerar calor e, portanto, água líquida", diz Gontijo. "E abaixo dessa camada de gelo, de 3 km a 30 km de espessura, haveria ainda um oceano de água salgada. Se tem água e energia, quem sabe lá no fundo não há um lugar até mais habitável do que Marte?"
O satélite ficaria fazendo sobrevoos entre Júpiter e Europa, de modo a ficar fugindo constantemente da força eletromagnética gerada pela interação entre o planeta e seus satélites. "É um dos piores lugares para instrumentos eletrônicos do Sistema Solar. Pior que lá, só perto do Sol", diz.
Por conta da distância, a nave sobrevoaria primeiro Vênus e depois a própria Terra, pegando "carona" no movimento dos planetas antes de ir a seu destino. Daí a longa jornada: saída em 2022, com chegada a Júpiter em 2029.
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