(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Duas missões que já estão voando no espaço e chegam a seus alvos em janeiro e junho do próximo ano devem ampliar o conhecimento sobre a origem e evolução do Sistema Solar.
A primeira delas envolve a nave europeia Rosetta que, em 20 de janeiro, tem um encontro marcado com um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko (67P).
Se não ocorrerem imprevistos, a Rosetta, que já orbita o cometa desde 6 de agosto passado, deverá lançar uma sonda, a Philae, para atracar-se à superfície do astro e investigar seu comportamento à medida que se aproxima do Sol, na órbita elíptica dos cometas periódicos.
Lançada por um foguete Ariane, da base de Kouru, na Guiana Francesa, em 2 de março de 2004, a Rosetta é uma nave produtiva. Ela já investigou asteroides e fez uma visita a Marte, enquanto aguardava a aproximação do 67P/Churyumov-Gerasimenko para cumprir seu objetivo principal.
Em 2007 ela visitou Marte e da órbita desse planeta enviou imagens e outros dados para a Terra. Em setembro do ano seguinte sobrevoou o asteroide 2867 Steins e, em julho de 2010, investigou o 21 Lutelia.
Depois de passar 31 meses hibernando como um urso espacial, a Rosetta foi despertada pelo controle do voo, em Darmstadt, na Alemanha, em 20 de janeiro passado. Essa hibernação é importante para economia de combustível que garante as manobras que a nave deve executar para cumprir seus objetivos.
A Rosetta é uma homenagem à Pedra da Rosetta, descoberta em 1799 e que permitiu ao linguista francês Jean-François Champollion (1790-1832) decifrar os hieróglifos egípcios, com enorme impacto na investigação dessa antiga civilização que influenciou os gregos antigos e por isso mesmo está nos fundamentos da cultura do Ocidente.
Já o lander, a sonda da missão que pousará no cometa, é uma referência a ilha de Filas, no Rio Nilo, onde foi encontrado um obelisco que também forneceu dados para a que os hieróglifos pudessem ser decifrados.
A New Horizons
A segunda missão, a New Horizons, da agência espacial americana, Nasa, deixou a Terra depois da Rosetta, em 19 de janeiro de 2006, para visitar Plutão e os componentes do Cinturão Kuiper, escombros da formação do Sistema Solar situados além da órbita de Netuno.
Referir-se a Netuno para precisar a localização do Cinturão Kuiper é algo frequente em astronomia planetária pois a órbita acentuadamente elíptica de Plutão faz com que, periodicamente ele invada a órbita de Netuno e faça desse mundo o mais distante em relação ao Sol.
Quando as duas naves foram lançadas, Plutão ainda era considerado um planeta, situação de que desfrutava desde que descoberto pelo astrônomo americano Clyde Tombaugh, em 1930, ao final de um exaustivo trabalho de manipulação fotográfica para localizá-lo contra o chamado “fundo fixo” de estrelas.
Pouco depois do lançamento da New Horizons, mais especificamente em 24 de agosto de 2006, no entanto, durante um encontro de membros da União Astronômica Internacional (UAI) Plutão foi rebaixado à condição de planeta-anão, categoria de que é parte também o asteroide Ceres, identificado em 1º de janeiro de 1801 pelo astrônomo italiano Giuseppe Piazzi, a partir do observatório de Palermo, na Sicília, sul da Itália.
Ao contrário de Plutão, no entanto, localizado na zona orbital que se confunde com o Cinturão Kuiper, Ceres se localiza no cinturão de asteroides entre as órbitas de Marte e Júpiter, bem mais próximo da Terra.
O que faz com que corpos localizados a diferentes distâncias do Sol, caso de Plutão e o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, sejam abordados num experimento estreitamente associados, por intermédio das missões Rosetta e New Horizons?
Os cientistas planetários apostam muitas fichas em que o cometa teve como origem essa região de escombros que envolve o Sistema Solar como uma primeira definição do que seria, convencionalmente, as fronteiras do Sistema Solar.
Região desconhecida
Depois do Cinturão Kuiper, onde muitos asteróides de porte significativos foram descobertos ao longo das duas últimas décadas, está localizada Nuvem Oort, um berçário de cometas que, eventualmente, por influência gravitacional de estrelas vizinhas podem mergulhar para o interior do Sistema Solar, numa única visita ou tomando forma de um cometa periódico, dependendo da órbita que desenhem no espaço.
Já antes da Nuvem Oort a influência do Sol mostra certa debilidade pela interação com a atividade de estrelas mais próximas, definindo a heliosfera.
As perguntas que os astrônomos planetários esperam responder com os dados enviados pelas duas missões podem praticamente redesenhar a configuração do Sistema Solar que vão desde a troca de posição de planetas a até a possibilidade de que um mundo que já integrou o Sistema Solar possa ter sido ejetado gravitacionalmente para o espaço profundo como resultado de um lance mais vigoroso de um bilhar cósmico.
Um artigo abordando o histórico e as perspectivas das duas missões, a Rosetta e New Horizons, integra a edição de dezembro de Scientific American Brasil, neste momento em fase de edição.
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