terça-feira, 11 de novembro de 2014

Peter no céu de diamantes




(Mensageiro Sideral - Folha) Diamantes talvez não sejam eternos, mas alguns são tão velhos quanto o próprio Sistema Solar. É o que indica a meticulosa análise dos restos de um meteorito caído em Sutter’s Mill, na Califórnia, em 2012. O grupo liderado por Peter Jenniskens, pesquisador da Nasa e do Instituto SETI, encontrou pequenos diamantes no interior das rochas. E muitas outras coisas interessantes.

Entre os achados estão aminoácidos — compostos essenciais à vida, que formam as proteínas — e sinais de interação com água líquida. Esses compostos devem ser representativos da nuvem de gás e poeira que deu origem ao Sol e seus planetas, cerca de 4,6 bilhões de anos atrás. Ou seja, a matéria-prima para o surgimento dos seres vivos já estava por aqui antes mesmo que a Terra se formasse.

O meteorito deve ter sido parte de um asteroide maior residente do cinturão entre Marte e Júpiter, até ser arrancado por impacto e colocado num curso de colisão com a Terra, onde caiu dois anos atrás. Ao entrar na atmosfera, o bólido tinha respeitáveis dois a quatro metros de diâmetro, mas foi feito em pedaços pelo atrito com o ar. Nos dias seguintes à queda, caçadores de meteoritos se esforçaram por encontrar no chão o que sobrou dele.

“O Sutter’s Mill nos dá um vislumbre do que futuras espaçonaves da Nasa podem encontrar quando trouxerem amostras de um asteroide primitivo”, disse Jenniskens, ao divulgar uma série de 13 artigos científicos sobre o objeto, recém-publicados no periódico “Meteoritics & Planetary Science”.

Os diamantes encontrados são muito pequenos, com apenas um centésimo de milímetro, mas já são muito maiores do que quaisquer outros encontrados antes em meteoritos.

POEIRA DE ESTRELAS
O que mais chamou a atenção do Mensageiro Sideral, contudo, foi o trabalho realizado por Akane Yamakawa e Qing-Zhu Yin, da Universidade da Califórnia em Davis.

Eles analisaram a presença de diversas versões (isótopos, para os íntimos com o linguajar científico) do átomo cromo que trazem assinaturas da origem dos materiais que formaram o meteorito e constataram que pelo menos cinco estrelas diferentes devem tê-los forjado antes que eles fossem incorporados à nebulosa que deu origem ao Sistema Solar.

Essas estrelas morreram antes que o Sol nascesse, e o material inerte que semearam no espaço serviu de matéria-prima para a formação da Terra e de tudo que há nela — inclusive eu e você. É incrível que os cientistas hoje, analisando um pedaço de rocha que caiu do céu, sejam capazes de traçar ao menos parte dessa história de bilhões de anos.

Não somos mais meramente “poeira de estrelas”, como sugeriu o saudoso astrônomo americano Carl Sagan. Com a ajuda da ciência, podemos agora ser ainda mais específicos e dizer que temos em nosso corpo átomos que já estiveram em pelo menos cinco estrelas diferentes. Isso, claro, além daqueles elementos primordiais — hidrogênio, hélio e lítio — produzidos pelo próprio Big Bang.

Nas mãos de qualquer um, os detritos do Sutter’s Mill seriam pedras vulgares. Mas, por meio do trabalho obstinado dos cientistas, eles se transformam numa conexão perene entre a vida na Terra e a vida do próprio cosmos, em seus incessantes processos fáusticos de criação e destruição.


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