quinta-feira, 1 de maio de 2014

Europa, por um punhado de dólares


(Mensageiro Sideral - Folha) A Nasa acaba de lançar um desafio a cientistas e engenheiros americanos: como realizar uma missão de exploração não-tripulada de Europa, uma das luas de Júpiter, por um valor inferior a US$ 1 bilhão? Propostas serão aceitas até 30 de maio, e o consenso geral é que não vai ser fácil encontrar uma proposta satisfatória com essa grana. É bem alto o preço de explorar um dos mais interessantes potenciais habitats para vida alienígena no Sistema Solar.

A proposta mais econômica até agora já formulada vinha sendo cozinhada pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da própria agência espacial americana e chegava com uma etiqueta de preço de US$ 2,1 bilhões. A ideia, batizada de Europa Clipper, não envolvia nem mesmo entrar em órbita do satélite, mas sim se manter girando em torno de Júpiter e, ao longo de três anos e meio, fazer uma série de sobrevoos próximos da lua, a fim de mapear sua superfície em detalhes.

Será preciso, portanto, muita criatividade para conseguir adequar os ambiciosos objetivos da Nasa com o orçamento disponível. As dificuldades que envolvem a exploração de Europa são muitas. Primeiro, Júpiter não é exatamente aqui do lado — ir até lá demora e custa caro. Segundo, a lua tem uma órbita próxima do planeta e é banhada por intensas doses de radiação, o que significa dizer que a espaçonave sofre se ficar lá por muito tempo. É melhor uma sonda distante da lua em pleno funcionamento que uma sonda próxima e pifada.

O interesse principal da missão é investigar o oceano global que aparentemente existe sob a crosta gelada do satélite natural. Em seu interior, vastas quantidades de água salgada são mantidas em estado líquido pelo poderoso efeito de marés provocado pelo gigante Júpiter. Recentemente, para tornar tudo ainda mais interessante, pesquisadores detectaram plumas de água sendo ejetadas do hemisfério Sul de Europa, o que poderia permitir um estudo direto do conteúdo do oceano — potencial abrigo para a vida — mesmo sem realizar um pouso.

Para a Nasa, a missão teria de cumprir cinco metas:

- Caracterizar o tamanho do oceano e sua relação com o interior mais profundo;

- Caracterizar a crosta de gelo e qualquer presença de água sob a superfície, incluindo sua heterogeneidade e a natureza das trocas oceano-gelo-superfície;

- Determinar a composição química da superfície, especialmente no que diz respeito a habitabilidade;

- Entender a formação de traços da superfície, inclusive sítios de atividade corrente ou recente, e identificar e caracterizar locais candidatos a futura exploração detalhada;

- Entender o ambiente espacial de Europa e sua interação com a magnetosfera de Júpiter.

“Embora a caracterização de locais de pouso para futura exploração in situ seja a quarta prioridade científica, a Nasa dá alta prioridade programática a essa meta, para permitir uma potencial futura missão de pouso em Europa”, afirma o documento de solicitação de propostas, dando uma pista do que a agência espacial americana vai querer fazer em seguida. Mas, convenhamos, é um bocado de coisas por US$ 1 bilhão. Parece muito dinheiro para você? Para que se tenha uma ideia, a missão Juno — também com destino a Júpiter, mas bem mais simples –, lançada em 2011, teve custo total até agora estimado em US$ 1,1 bilhão.

Será que existe algo mais barato que o Europa Clipper, orçado em US$ 2,1 bilhões, capaz de atender aos objetivos propostos? Engenheiros e cientistas espalhados pelos Estados Unidos têm um mês para achar a resposta. O Mensageiro Sideral certamente vai torcer para que eles encontrem um meio. Europa é interessante demais para deixarmos para lá.

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