terça-feira, 11 de março de 2014

Voo interplanetário, ou um bilhão por beleza

A ideia de uma expedição interplanetária com passagem por Vênus e Marte interessou os congressistas americanos.


(Voz da Rússia) Há dias, o Comitê do Congresso para a Ciência pediu a NASA para estudar a viabilidade de tal missão e da participação nela da própria agência. No voo de 582 dias deve ir um casal. O lançamento está previsto para novembro de 2021.

Esta expedição desenvolve os planos do primeiro turista espacial Dennis Tito, que pretendia enviar astronautas-cônjuges num voo em torno de Marte. O lançamento estava previsto para 2018. A nave deveria passar a uma distância de 100 milhas do Planeta Vermelho e regressar à Terra passados 501 dias. Tito pretendia usar uma nave e um foguete de lançamento particulares. Com esse aspecto houve incertezas, não se conseguia juntar a quantia necessária – a angariação de fundos estava sendo efetuada pela sua fundação não-comercial privada Inspiration Mars Foundation, criada para o efeito.

Percebendo que ele não poderia passar sem a ajuda da NASA, o turista adicionou ao programa a passagem por Vênus e adiou o lançamento para 2021. Justamente até essa data a agência deve concluir a construção da nave Orion e do foguete pesado Space Launch System (SLS). Neles Tito quer realizar a expedição. Ele promete que todos os custos não serão superiores a um bilhão de dólares. 300 milhões dará a sua fundação, e a NASA poderia alocar o montante restante.

Numa audiência no Comitê do Congresso, a maioria dos oradores manifestaram a opinião de que o plano é, em princípio, realizável. No entanto, existe um sério obstáculo, explica o acadêmico da Academia russa de Cosmonáutica Tsiolkovsky Alexander Zheleznyakov:

“Apesar de tanto o Orion quanto o foguete de lançamento, segundo o cronograma, deverão estar concluídos até 2021, a agência aeroespacial norte-americana dificilmente se decidirá a experimentá-los logo numa missão tão complicada e arriscada. Além disso, há que ter em conta que os desejos do Congresso são apenas pensamentos de congressistas que não compreendem plenamente toda a complexidade e o perigo desta ideia.”

Os congressistas chamaram a ideia de Tito de “elo interessante” entre a Estação Espacial Internacional e a reorientação da astronáutica para o espaço longínquo e missões para Marte. A ideia também foi ativamente apoiada pelo chefe da comissão Lamar Smith, apontando para a falta de projetos atraentes da NASA: “Há uma sensação de que os melhores dias da nossa astronáutica ficaram para trás, e a administração de Obama está envolvida nisto.” Smith lembrou que o presidente norte-americano cancelou o programa lunar em favor da missão a um asteroide, mas muitos especialistas não levam este plano a sério.

Na audiência sobre o projeto de Dennis Tito não falou nenhum representante da agência aeroespacial, notou o vice-editor-chefe da revista Novosti Kosmonavtiki (Notícias da Astronáutica) Igor Lisov:

“Ela foi representada por pessoas que, embora tivessem anteriormente trabalhado na NASA, atualmente são indivíduos particulares. As chances do projeto ser adotado pela Agência são quase nulas. E o projeto de orçamento da NASA para 2015 não diz nada sobre isso.”

Mas a ideia de sobrevoar Vênus e Marte é linda demais para ser tão facilmente descartada. Um ano atrás, quando apareceu a primeira versão da expedição, houve uma avalanche de pessoas que queriam participar. Surgiram soluções técnicas interessantes relacionadas com a proteção da tripulação da radiação. Além disso, apenas em 2021 haverá um posicionamento conveniente dos planetas que permitirá voar quase sem gastar combustível, seguindo uma curva balística. Caso contrário, será necessário esperar outros 12 anos.

O próprio Dennis Tito acha que realizar a missão é um desafio insolente, mas também um fim alcançável. Ele está disposto a esperar que a sua iniciativa amadureça nas mentes daqueles de quem depende a tomada de decisões, e que ela seja oficialmente proclamada.

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