segunda-feira, 24 de março de 2014

Brasileira passa para segunda fase de seleção de projeto para ir a Marte



(Folha) Faltavam poucas horas para o fim de 2013 quando a engenheira Priscila Hamad, 28, de Joinville (SC), soube que estava entre os aprovados de um processo seletivo incomum: a escolha de voluntários para uma viagem só de ida para Marte.

Ela foi uma das cerca de 200 mil pessoas que se inscreveram no Mars One, um "programa de colonização" do planeta vermelho.

Os inscritos pagaram uma taxa que variava de país para país -no Brasil, o valor foi de cerca de R$ 30 (US$ 13).

A fundação privada Mars One quer estabelecer o primeiro acampamento de humanos em Marte em 2025.

A ideia é de dois holandeses -um engenheiro e um físico que passou pela ESA (Agência Espacial Europeia).

Para conseguir o dinheiro de que precisam -cerca de US$ 6 bilhões-, a dupla está fazendo um financiamento coletivo on-line. Eles já conseguiram cerca de US$ 500 mil. Também planejam um "reality show" no planeta.

SELEÇÃO
Os candidatos tiveram de enviar vídeos para uma espécie de rede social, dizendo por que queriam protagonizar a empreitada.

"Disse que acredito que a humanidade pode evoluir para algo melhor", diz Hamad. O vídeo dela pode ser visto no no site do projeto.


Ela está entre os 1.058 aprovados para a segunda etapa -são quatro fases no total. O namorado dela ficou para trás. Sobre isso, Priscila não desanima. "Cabe àquele que não passar para a segunda etapa arranjar um jeito de ir depois", brinca.

Ao todo, serão escolhidas 24 pessoas em todo o mundo que embarcarão em 2024 e chegarão lá no ano seguinte.

"Marte é o único planeta que podemos ousar habitar com o conhecimento científico que temos hoje", diz Thais Russomano, coordenadora do centro de pesquisa em microgravidade da PUC-RS e única brasileira entre os 26 consultores do projeto. "Mas há desafios", afirma.

Entre eles estão os altos níveis de radiação que os astronautas receberão na viagem de 210 dias até o planeta. Também há perda de massa óssea e atrofia muscular.

O principal desafio, no entanto, é psicológico. Os colonos nunca mais terão contato direto com quem ficou.

Além disso, experiências de confinamento podem resultar em abalos graves. O diagnóstico é da ESA, que simulou uma missão de 520 dias em 2010 e 2011 com seis tripulantes. Eles tiveram depressão, letargia e insônia.

Priscila diz que sabe que sua vida mudará de forma irreversível caso seja convocada para a missão. Mas fazer parte desse momento histórico "faz tudo valer a pena".

CETICISMO
O Mars One não é o único projeto de excursões espaciais privadas em Marte. Fundada pelo multimilionário Dennis Tito, a Inspiration Mars pretende levar um casal de meia idade para orbitar o planeta em 2018. Tito foi o primeiro a pagar por um assento para ir à Estação Espacial Internacional, em 2001.

Projetos como esses costumam despertar ceticismo na comunidade científica. No caso do Mars One, o orçamento de cerca de US$ 6 bilhões é considerado baixo. O prazo de dez anos também é apontado como irrealista.

"Teríamos de ter uma maturidade tecnológica maior para cumpri-lo. Mandar satélites é uma coisa; enviar pessoas é outra", diz Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da USP São Carlos.

Nem a Nasa tem planos tão ambiciosos de missões tripuladas ao planeta. O objetivo da agência é levar astronautas a Marte em 2030, numa viagem que não ultrapassará a órbita do corpo celeste.

"Os meios acadêmico e científico internacional se dividem em dois polos: os que apostam no projeto e os que o criticam", diz Thais Russomano. "Eu me enquadro no primeiro, assim como muitos outros cientistas ligados à ciência espacial."
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Matéria com infográfico aqui
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E mais:
Vai ser criada réplica das casas a construir em Marte (JN - Portugal)

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