segunda-feira, 3 de junho de 2013

Objecto misterioso e bem-preservado da Nuvem de Oort aproxima-se do Sistema Solar



(Astronomia On Line - Portugal) E se pudéssemos viajar até ao fim do Sistema Solar - para lá dos nossos conhecidos planetas rochosos e gasosos, para lá das órbitas dos asteróides e cometas - mil vezes ainda mais longe - até à concha esférica de partículas geladas que rodeiam o Sistema Solar? Acredita-se que esta concha, mais conhecida como Nuvem de Oort, seja um remanescente do início do Sistema Solar.

Imagine o que os astrónomos podiam aprender sobre o Sistema Solar jovem ao enviar uma sonda para a Nuvem de Oort. Infelizmente a sua distância é um pouco mais do que está actualmente ao nosso alcance. Mas não estamos totalmente sem sorte. 2010 WG9 - um objecto trans-neptuniano - é na verdade um objecto da Nuvem de Oort disfarçado. Foi empurrado da sua órbita e encontra-se a viajar para mais perto de nós, para que possamos ter uma visão sem precedentes.

Mas ainda fica melhor! 2010 WG9 não vai aproximar-se do Sol, o que significa que a sua superfície gelada permanecerá bem preservada. David Rabinowitz, autor principal de um artigo sobre observações deste objecto, afirma: "Este é um dos objectivos principais da Ciência Planetária - observar um planetesimal inalterado deixado para trás da época da formação do Sistema Solar."

Deve estar a pensar: os cometas não vêm da Nuvem de Oort? É verdade, a maioria dos cometas foram puxados para fora da Nuvem de Oort por uma perturbação gravitacional. Mas a observação dos cometas é extremamente difícil porque estão rodeados por nuvens brilhantes de poeira e gás. Também aproximam-se muito do Sol, o que significa que os seus conteúdos gelados evaporam-se e a sua superfície original não é preservada.

Por isso, embora exista um número surpreendentemente elevado de objectos da Nuvem de Oort que viajam pelo Sistema Solar interior, os astrónomos precisavam encontrar um que seja fácil de observar e cuja superfície esteja bem preservada. 2010 WG9 é o objecto ideal para este trabalho. Não está coberto por poeira ou gás, e acredita-se que tenha passado a maioria da sua vida a distâncias superiores a 1000 UA. De facto, nunca passará a órbita de Úrano.

Astrónomos da Universidade de Yale observam 2010 WG9 há já mais de dois anos, capturando imagens em diferentes comprimentos de onda. Assim como os filtros de café permitem com que o líquido passe mas bloqueie resíduos sólidos de café, os filtros astronómicos permitem a passagem de certos comprimentos de onda enquanto bloqueia todos os outros.

Convém recordar que o comprimento de onda da luz visível refere-se à cor. A cor vermelha, por exemplo, tem um comprimento de onda que ronda os 650 nm. Um objecto muito vermelho irá por isso ficar mais brilhante num filtro deste comprimento de onda, ao contrário de um filtro, digamos, de 475 nm, ou azul. A utilização de filtros permite aos astrónomos estudar cores específicas do espectro visível.

Os astrónomos observaram 2010 WG9 com quatro filtros: azul, visível, vermelho e infravermelho. O que viram? Variação - uma alteração de cor ao longo de poucos dias.

A fonte provável é uma superfície irregular. Imagine olhar para a Terra (faça de conta que não tem atmosfera) com um filtro azul. Ficava mais brilhante quando os oceanos estivessem visíveis, e mais ténue quando estivessem visíveis os continentes. Haveria uma variação na cor, dependendo dos diferentes elementos localizados na superfície do planeta.

O planeta anão Plutão tem manchas de metano gelado, que também aparecem como variações de cor à sua superfície. Ao contrário de Plutão, 2010 WG9 é pequeno (100 km em diâmetro) e não consegue manter o seu metano gelado. É possível que uma parte da superfície tenha sido exposta recentemente após um impacto. De acordo com Rabinowitz, os astrónomos ainda não têm a certeza do significado das variações de cor.

Rabinowitz explica que 2010 WG9 tem uma rotação invulgarmente lenta. A maioria dos objectos trans-neptunianos giram cada poucas horas. 2010 WG9 completa uma rotação a cada 11 dias! A melhor razão para esta discrepância é que é na realidade um sistema binário. Se 2010 WG9 está preso a outro objecto por forças de marés - o que significa que a rotação de cada corpo está bloqueada à velocidade de rotação - então 2010 WG9 abranda a sua rotação.

Segundo Rabinowitz, o próximo passo será observar 2010 WG9 com telescópios maiores - talvez o Telescópio Espacial Hubble - para melhor medir a variação de cor. Podem até ser capazes de determinar se o objecto é de facto um sistema binário, e observar o objecto secundário.

Quaisquer observações futuras irão ajudar-nos a melhor compreender a Nuvem de Oort. "Sabemos muito pouco sobre a Nuvem de Oort - quantos objectos lá existem, quais as suas dimensões e como se formou," explica Rabinowitz. "Ao estudar as propriedades em detalhe de um membro recém-chegado da Nuvem de Oort, podemos aprender mais sobre os seus constituintes."

2010 WG9 irá provavelmente dar-nos pistas sobre a origem do Sistema Solar e ajudar-nos a melhor compreender a sua própria origem: a misteriosa Nuvem de Oort.

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