terça-feira, 14 de maio de 2013

Destino final: Marte

Os planos da Nasa e de empresas para enviar humanos ao planeta vermelho



(O Globo) A uma distância média de 225 milhões de quilômetros da Terra, Marte é o atual objeto dos sonhos da conquista espacial humana. Mas o que era apenas uma fantasia a pouco tempo atrás agora está cada vez mais perto de se tornar uma realidade. Embora ainda restem muitos desafios tecnológicos a serem superados, governos e empresas já têm planos de enviar missões tripuladas ao planeta vermelho nas próximas décadas. Mais ou menos ousados, os projetos vão desde uma escalada gradativa que passaria antes por uma visita de astronautas a um asteroide, como o pretendido pela Nasa, a um reality show proposto por uma organização holandesa que acompanharia a vida dos primeiros colonos, que receberiam uma passagem só de ida a Marte, e já tem cerca de 80 mil interessados, entre eles 18 brasileiros.

A reboque das seguidas missões bem-sucedidas de veículos-robôs da Nasa para Marte (o último deles, Curiosity, do tamanho de um pequeno carro, pousou no planeta vermelho em agosto de 2012), especialistas, empresários e representantes de agências espaciais de todo mundo se reuniram na semana passada em uma conferência em Washington para discutir as necessidades e perigos de uma missão tripulada. De novos foguetes e cápsulas que consigam levar e proteger os astronautas na viagem ao desenvolvimento de estratégias para que sobrevivam na superfície do planeta por um longo período, os obstáculos são grandes, mas deverão ser superados, garantiu Charles Bolden, administrador-chefe da Nasa.

- Uma missão humana para Marte é hoje o destino final da Humanidade no nosso Sistema Solar e uma prioridade para a Nasa. Todo nosso programa de exploração está alinhado com este objetivo – disse Bolden em discurso durante a conferência.

Segundo Bolden, o caminho da Nasa para Marte passa antes por asteroides próximos da Terra. Apresentado no mês passado, o orçamento de US$ 17,7 bilhões da agência inclui um projeto de uma missão robótica para capturar e trazer uma pequena rocha espacial para uma órbita estável em torno da Lua, onde então seria visitada por astronautas. Mais à frente, a Nasa pretende lançar uma missão tripulada para um asteroide maior em 2025, para então enfim mandar pessoas ao planeta vermelho e trazê-las de volta nos anos 2030.

Isso tudo, no entanto, ainda depende de a agência recuperar sua capacidade de enviar seus astronautas para o espaço por conta própria. Desde a aposentadoria de seus ônibus espaciais em 2011, a Nasa tem dependido dos foguetes russos Soyuz para transportar tripulantes para a Estação Espacial Internacional (ISS) enquanto a iniciativa privada americana desenvolve sistemas capazes de voar para a baixa órbita da Terra como parte da nova política espacial do presidente Barack Obama. As viagens para o asteroide e Marte, porém, vão demandar equipamentos mais poderosos, o que nos planos da agência se traduzem como o foguete SLS e a cápsula multipropósito Órion. Com quase 120 metros de altura, o SLS deverá ser o maior foguete já construído, batendo os Saturno V que levaram o homem à Lua nos anos 60 e 70. Na sua versão maior, ele poderá levar mais de 140 toneladas de carga e tem voo inaugural previsto para 2017.

Mas a abordagem gradual da Nasa é alvo de críticas de alguns especialistas. Durante a mesma conferência, o ex-astronauta Edwin “Buzz” Aldrin, segundo homem a pisar na Lua, atacou o projeto da agência de capturar um asteroide e defendeu que as viagens para Marte devem ser só de ida, ecoando o mirabolante plano da organização holandesa “Mars One”. Para Aldrin, que acaba de lançar o livro “Mission to Mars: My vision for space exploration” (Missão a Marte: Minha visão para a exploração espacial, em uma tradução livre), ir até um asteroide só valeria a pena se ele servir de ponto de parada na missão ao planeta vermelho. O plano do ex-astronauta inclui usar a lua marciana Phobos como base e naves em trajetórias específicas que as manteriam circulando lentamente entre as órbitas da Terra e de Marte para um constante envio de novos colonos e suprimentos, formando um verdadeiro sistema de transporte interplanetário.

- Isso (a missão para um asteroide) se tornou um grande exercício de defesa planetária às custas da exploração – avaliou Aldrin. - Ir para Marte significa permanência, nos tornaríamos uma espécie de dois planetas. Em Marte, temos um par maravilhoso de luas que nos permitiria mandar um contínuo número de pessoas, cujo destino final seria serem enterradas seis palmos abaixo da superfície de Marte.

Bolden, por sua vez, respondeu às críticas afirmando que a missão ao asteroide não significa excluir Marte dos planos.

- O asteroide e Marte não são um ou outro – disse. - A experiência na exploração de um asteroide será crítica para as futuras viagens à Marte.

Mars One pretende chegar lá antes
Enquanto a Nasa adota uma postura mais cautelosa com relação a uma missão tripulada a Marte, empresas e organizações têm planos bem mais ousados para a exploração do planeta vermelho. Nas últimas semanas, a holandesa Mars One já conseguiu atrair cerca de 80 mil pessoas ao redor do mundo interessadas em viagens só de ida para estabelecer a primeira colônia humana em Marte. Todas pagaram entre US$ 5 e US$ 75 para se inscreverem no projeto, que espera levantar fundos suficientes para o empreendimento por meio, por exemplo, da venda de espaço publicitário e de um programa de TV nos moldes do “Big Brother” (outra criação holandesa) sobre estes primeiros colonos marcianos.

Segundo Bas Lansdorp, cofundador e presidente da Mars One, a meta é atingir a marca de meio milhão de candidatos até o fim das inscrições, em 31 de agosto. A partir de então teria início o processo de seleção, primeiro reduzindo o número para algo entre 50 a cem interessados de cada uma das 300 regiões geográficas definidas pela organização até chegar a 28 a 40 escolhidos em 2015, que iniciariam um programa de treinamento de sete anos em uma base simulada na Terra já sob os holofotes da TV, cabendo à audiência do programa selecionar os que farão a primeira viagem.

Enquanto isso, a Mars One também já teria começado a preparar o terreno marciano para receber os colonos. A ideia é enviar naves não tripuladas com equipamentos e suprimentos a partir de 2016 até que a base esteja pronta em 2022. No mesmo ano os colonos sairiam da Terra, chegando a Marte em 2023. Segundo a organização, a tecnologia necessária tanto para a construção da base quanto para a viagem já está disponível ou estará em breve, afirmação que muitos especialistas presentes na conferência da semana passada em Washington veem com ceticismo, já que estar disponível não significa estar pronto para voar e muito menos levando pessoas.

De acordo com a Mars One, tanto as missões de suprimento quanto a viagem a Marte devem ser feitos usando o sistema composto pelo foguete Falcon Heavy e a cápsula Dragon da empresa americana SpaceX. O foguete, no entanto, tem seu primeiro teste previsto apenas para este ano, enquanto a cápsula ainda não fez nenhum voo tripulado, embora já esteja sendo usada para abastecer a Estação Espacial Internacional.

E isso sem falar em outros desafios, como proteger os astronautas da radiação do Sol na nave e na superfície de Marte, que não conta com um campo magnético como a Terra, ou sobreviverem só com os recursos encontrados no planeta, já que não seria possível enviar tudo que eles necessitariam para se manter definitivamente por lá.

Além da Mars One, outras empresas estão de olho em realizar uma missão tripulada a Marte antes da Nasa. Dennis Tito, milionário que pagou US$ 20 milhões para ir para a Estação Espacial Internacional em 2001, tornando-se o primeiro “turista espacial”, recentemente anunciou planos de mandar dois astronautas a Marte num sobrevoo em 2018. Já Elon Musk, dono da mesma SpaceX cujo sistema a Mars One pretende usar, deverá anunciar seus próprios planos de exploração de Marte nos próximos meses.
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