quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012: Curiosity chega a Marte para desvendar mistérios



(GHX / Terra) No ano em que os mais afoitos previram o fim da vida na Terra, a Nasa principiou a busca por vida em Marte. A sonda Curiosity foi lançada no dia 26 de novembro de 2011, a partir do Cabo Canaveral, na Flórida. Pesando 1 t, pousou na Cratera Gale em 6 de agosto de 2012. Com um custo de US$ 2,5 bilhões, o robô é o maior e mais moderno veículo já feito para explorar o planeta vermelho. Até agora, encontrou partículas brilhantes de natureza desconhecida, vestígios de uma correnteza de água e até compostos orgânicos. Mas o trabalho está apenas começando.

Curiosity justifica seu nome. O robô conta com 10 instrumentos científicos, que o deixam com uma carga 15 vezes maior do que os jipes Spirit e Opportunity, lançados em 2003. Além disso, o novo robô é cinco vezes mais pesado do que seus antecessores. Tudo isso para "investigar a possibilidade de Marte ter vida microbiana, no passado e no presente", explica o astrônomo Ronaldo Mourão, fundador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), em artigo publicado no Jornal do Brasil.

Descobertas
Um ano após o seu lançamento e 16 semanas desde o seu desembarque em solo marciano, a Curiosity já havia enviado mais de 23 mil imagens, percorrido mais de 500 m e feito descobertas importantes sobre as condições ambientais daquele planeta. Conforme o astrofísico Jorge Ernesto Horvath, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), entre as principais descobertas, está a confirmação da existência de uma correnteza de água, que transportou pedras e cascalhos arredondados no passado. "Foi possível até estimar que a correnteza (possivelmente um rio) tinha menos de 1 me de profundidade, similar a alguns córregos terrestres", afirma.

Além disso, no dia 3 de dezembro de 2012, a Nasa divulgou que a Curiosity estava usando sua gama completa de instrumentos para, pela primeira vez, analisar o solo marciano, onde substâncias complexas teriam sido encontradas. Para Amaury Augusto de Almeida, doutor em Astronomia e professor do Departamento de Astronomia no IAG/USP, esse fato é importante. "A Curiosity fez a descoberta de compostos orgânicos no solo marciano, que podem ser originais de Marte ou ter sido trazidos por um asteroide, por exemplo", justifica.

Outra descoberta ocorreu no mês de outubro, quando, na primeira colherada de terra marciana coletada, o robô Curiosity encontrou objetos brilhantes na superfície do solo. "As partículas brilhantes foram processadas no instrumento CheMin (química e mineralogia), e se pensava que fossem restos da própria nave, mas depois ficou claro que pertencem ao solo marciano. Não é claro ainda qual é sua composição", alega Horvath. No momento, a Curiosity se aproxima de uma área um pouco mais baixa, chamada "Yellowknife Bay", onde os pesquisadores pretendem escolher uma pedra para utilizar, pela primeira vez, a broca para perfurar.

Viagens tripuladas a Marte
O robô Curiosity deve totalizar dois anos de estudos em solo marciano, portanto a missão está apenas começando. "São dez instrumentos e dezessete câmeras esmiuçando o lugar em busca de pistas de que possa ter existido vida por lá. Ainda há muito tempo para novas descobertas", aponta Almeida. Conforme Bica, experiências visando detectar evidências de vida microbiana, assim como o estudo do subsolo, com presença de gelo, podem ser aguardadas durante esse período.

Enquanto a Curiosity segue trabalhando, a missão levanta questionamentos sobre possíveis viagens tripuladas a Marte, no futuro. No momento, são muitos os entraves que impedem os humanos de pisar no planeta vermelho. "Para começar, a viagem levaria uns 2 anos por trecho, é insegura desde vários pontos de vista e existem problemas na alimentação, fornecimento de água e outros que não foram resolvidos para a duração estimada", argumenta Horvath, que também é Coordenador do Núcleo de Astrobiologia da USP.

Mesmo que os astronautas pousassem com vida em Marte, haveria muitas outras dificuldades. Almeida explica que eles teriam que ficar abrigados em complexos modulares para a sua sobrevivência. De acordo com o professor do IAG/USP, o tempo mínimo de permanência no planeta vermelho seria de oito meses, para se ter uma "janela de volta para a Terra". "Mas como seria essa viagem de volta? Essa ainda é uma questão em aberto, um cenário nebuloso, que só se esclarecerá nos próximos vinte anos ou mais", explica.

O professor da UFRGS levanta ainda outro questionamento: "Qual astronauta quererá sacrificar 3 ou 4 anos de suas vidas no espaço, restrito a uma nave? Qualquer erro ou falha técnica seria fatal", justifica. No que se refere às viagens tripuladas a Marte, Horvath é taxativo: "Não estamos ainda próximos de enviar seres humanos, e eu, pessoalmente, não iria para lá".

Mesmo assim, embora esse não seja o principal objetivo da missão, a Curiosity pode ajudar nesse cenário. Almeida acredita que informações detalhadas sobre as condições climáticas de Marte, tais como temperatura do solo, pressão atmosférica, vento, umidade do ar, radiação ultravioleta e infravermelha auxiliarão em futuros projetos desse tipo.

O interior de Marte
Após a Curiosity, Almeida explica que a Nasa já tem uma grande missão na fila: um orbitador chamado Maven, que explorará a atmosfera e o clima marcianos. Seu lançamento está programado para 2013. Horvath aponta ainda outro projeto ambicioso, a missão InSight, que deve, pela primeira vez, se ocupar em explorar o interior do planeta (estudos de sismologia e transporte de calor, principalmente).

Seja qual for o projeto, a exploração de Marte é essencial. "Mais visitas ao planeta poderiam responder questões pendentes sobre a história da própria Terra", esclarece. Para ele, Marte deve ser visto como um laboratório comparativo para estudar o clima e a geologia da Terra. "A busca de condições de vida em Marte é fundamental, e Marte também é o planeta mais próximo e adequado para ser explorado", finaliza.
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