segunda-feira, 30 de julho de 2012

Próximo de uma possível confirmação

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil)  À medida que o 6 de agosto se aproxima o controle do vôo do Mars Science Laboratory e a comunidade internacional ligada à exobiologia (estudo da vida fora da Terra) cruzam os dedos na expectativa de que a sonda automática mais complexa já enviada a um planeta do Sistema Solar pouse intacta na cratera Gale (4.6º de latitude Sul e 137.2º de longitude Leste) em Marte.

Estrutura de 150 km de diâmetro essa cratera, batizada em homenagem ao astrônomo amador australiano Walter Frederick Gale, caracteriza-se por uma enorme quantidade de detritos em torno de um pico central que se eleva 5. 500 m acima da base norte da formação e a 4.500 m do lado sul.

A origem desse material não é suficientemente conhecida, mas astrônomos planetários suspeitam que resulte de remanescentes de rochas sedimentares erodidas que podem ter formado um antigo leito de lago.

A idade dessas rochas está estimada em 2 bilhões de anos.

Para uma missão comprometida com a detecção de eventuais formas de vida em Marte, Gale é um alvo promissor.

Especialistas em exobiologia estimam que extremófilos, formas de vida que conseguem manter-se em condições ambientais extremas, ou até mesmo necessitam desse ambiente para viver, podem ser encontradas em Marte.

Se o Curiosity, o jipe da missão (plataforma dela) encarregado dessa busca tiver sucesso, a história da vida como a conhecemos estará dividida em um antes e um depois dessa exploração.

O Mars Science Laboratory, montado no Curiosity, é o maior, mais bem equipado e o mais caro dos exploradores enviado a outro mundo do Sistema Solar.

Iniciativas anteriores, levando os jipes Spirit e Opportunity, que pousaram em Marte em janeiro de 2004, ou mesmo o Sojourner, veículo da Mars Pathfinder Mission, de 1997, contribuíram enormemente para o conhecimento das condições de Marte.

Mas nenhuma delas se compara à atual.

Compensação de frustrações
É como se os exploradores de Marte quisessem vingar-se da frustração produzida pelas gêmeas Viking 1 e 2 que, nos anos 70, tentaram decifrar o enigma envolvendo a possibilidade de vida no planeta.

As gêmeas, que um dia estarão entre as relíquias da exploração planetária num museu construído pelos futuros ocupantes do Planeta Vermelho, enviaram para a Terra resultados controvertidos, que mais confundiram que responderam essas antigas perguntas sobre Marte.

Marte dispõe de uma atmosfera rarefeita, o que significa que permite o uso de paraquedas para reduzir a velocidade de mergulho de uma nave destinada a sua superfície. Mas não com a eficiência da atmosfera terrestre.

Assim, uma missão que deve atingir as areias rosadas de sua superfície deve fazer uso de recursos diversos para pousar com suavidade.

O percurso de pouso da missão então começará a 125 km de altitude, quando o atrito com a massa de gás começa a reduzir a velocidade de mergulho. Esse atrito freia a velocidade da cápsula que leva toda a instrumentação em 90%.

O atrito, no entanto, aquecerá o escudo antitérmico a uns 2.100º Celsius. Então, a uma altitude em torno de 11 km os paraquedas se abrem automaticamente, reduzindo a velocidade de mergulho de 400 m/s para 125 m/s, quando, a 8 km de altitude, o escudo antitérmico se desprende.

Com a separação da proteção antitérmica um radar de controle de pouso entra em operação, registrando e fotografando dados da superfície.

A 1,6 km de altitude o conjunto se livra dos paraquedas e da concha protetora e o jipe mostra seu perfil contra o céu desse mundo vizinho e continuará descendo, mas agora controlado pelo funcionamento de retrofoguetes para amortecer e diminuir ainda mais a velocidade, agora prevista para 0,75 m por segundo a 20 metros de elevação.

Manobras automáticas
Com o pouso do Curiosity uma porção superior, que pretendia as cordas dos paraquedas, é ejetada por foguetes e pousa a 150 m de distância, evitando projetar-se sobre a carga útil e provocar a destruição dela, após um longo percurso no espaço interplanetário.

Ainda que possa produzir impacto na mídia e letras garrafais nas seções de ciência de jornais de todo o mundo a eventual detecção de formas de vida simples em Marte, de um ponto de vista científico não surpreenderá.

Ainda que, paradoxalmente, não deixe de representar uma quebra de paradigma.

Quando as Viking pousaram em Marte não havia registro de nenhum planeta fora do Sistema Solar. Isso só ocorreu em 1992, quando um mundo solitário foi, surpreendentemente, identificado em órbita de um pulsar, com os recursos de radioastronomia.

Para compreender o significativo desse encontro surpreendente, considere que ele equivale quase a encontrar uma pequena casa de vidro ao lado de um edifício desmantelado por implosão.

Agora, o número de planetas extrassolares não pára de crescer e o sonho dos cientistas planetários é localizar um gêmeo da Terra, ainda que a centenas ou milhares de anos-luz de distância.

Em direção à vida, outra barreira foi ultrapassada também com o recurso da radioastronomia.

Na primeira metade do século passado se pensava que o vácuo interestelar, com uma quantidade reduzida de átomos por volume de espaço, não permitiria a formação de moléculas mais complexas, evidência de que a vida seria rara e localizada.

Desde então, centenas de moléculas, cada vez mais complexas, foram identificadas no espaço, mudando radicalmente o cenário capaz de abrigar ambientes para a vida.

Então, a expectativa de se encontrar organismos fora da Terra, ainda que elementares, deixou a ficção para integrar a realidade.
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E mais:
Problemas técnicos prejudicam operações da NASA em Marte (Hypescience)

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