Astrônomos estão frustrados com cortes orçamentários propostos
(Scientific American Brasil) A indignação é geral devido aos cortes propostos no mês passado pela administração Obama à ciência planetária e, especialmente, ao programa de exploradores robóticos de Marte da Nasa. Pesquisadores aqui reunidos para a Lunar and Planetary Science Conference anual se revezaram esbravejando contra os cortes em palestras científicas, nos corredores do centro de conferências e nas reuniões abertas com a gerência da Nasa. Um funcionário da Nasa, depois de ter informado um grupo de cientistas sobre uma faceta da política orçamentária, brincou sobre a necessidade de um colete à prova de balas para sua palestra.
No orçamento proposto por Obama para o ano fiscal de 2013, a divisão da ciência planetária da Nasa perde mais de US$ 300 milhões, comparando com o ano anterior. A maior parte deste valor viria da exploração de Marte.
Se o Congresso concordar com o plano de Obama, o programa de exploração de Marte perderá cerca de US$ 225 milhões, um corte de mais de 38%. (Alguns membros do Congresso já protestaram contra os cortes e o administrador da Nasa, Charles Bolden, comparecerá perante um subcomitê da Câmara para discutir o orçamento.)
Os impactos da proposta de orçamento já estão sendo sentidos. A Nasa anunciou que se retirará das missões conjuntas com a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) para Marte em 2016 e 2018. Jim Green, diretor da divisão de ciência planetária da Nasa reconheceu, durante um fórum da Agência Espacial, que a parceria internacional precisaria de alguns ajustes. “Precisamos reconstruir, recuperar a confiança”, sustentou a respeito da ESA.
A proposta leva uma pitada extra de crítica, pois o programa de Marte é um dos mais produtivos da agência ultimamente, em termos de ciência e relações públicas, graças às missões, como a Mars Reconnaissance Orbiter, a sonda Phoenix e dos veículos controlados à distância Spirit e Opportunity. “Por que, na verdade, estão fazendo este corte de 38% no programa de Marte?” questionou James Head, da Brown University, durante uma palestra. “Será que tivemos sucesso demais?”A última missão, o veículo gigante Curiosity, controlado à distância, agora a caminho de Marte, foi assolado por derrapagens orçamentárias e atrasos de lançamento. Mas John Grunsfeld, chefe da Diretoria Científica da Nasa, afirmou durante o fórum da Agência que os cortes não foram punitivos.
Segundo Grunsfeld, na verdade, a agência foi confrontada com um achatamento de orçamento global e custos crescentes em outros setores, que acabaram compensados em outro lugar. “O fato de o orçamento planetário da Nasa ter um sucesso tão grande, resulta dessas configurações difíceis de prioridade”, argumenta Grunsfeld. Ele acrescentou que não foi possível vincular os cortes de ciências planetárias diretamente aos ganhos em outra área da Nasa. “Realmente não houve negociação entre as divisões”, explica.
É pouco provável, porém, que isso satisfaça alguns astrônomos, que veem uma porção crescente do orçamento de ciências da Nasa indo para outros projetos como o Telescópio Espacial James Webb, que conta com anos de atraso e já ultrapassou bem seu orçamento.
Agora ficou claro que a ciência planetária terá que pagar, mesmo que indiretamente, pelos programas caros de outras áreas.
“Em vez de manter os pontos fortes da Nasa espalhando pequenos corte orçamentários igualmente entre os projetos e os programas da agência, decidiu-se concentrar apenas na ciência planetária para um corte maciço desproporcional”, lamentou Jim Bell, da Arizona State University, em Tempe, presidente do conselho diretor da Planetary Society, organização sem fins lucrativos, durante uma sessão plenária que se seguiu à exposição de Grunsfeld e Green. “E dentro da ciência planetária, para destacar um dos programas mais bem-sucedidos do nosso país, o programa de Marte, ficou com a parte do leão dos cortes. Eu não sei, pessoalmente, o que leva a essa hostilidade em relação ao que tem sido a tarefa mais singular e bem-sucedida da Nasa nas últimas décadas.”
sexta-feira, 30 de março de 2012
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