terça-feira, 23 de agosto de 2011

Solo de Marte é mais adequado para a vida do que se pensava


(Astronomia On Line - Portugal) Um novo estudo sugere que o solo de Marte pode ser capaz de suportar vida melhor do que se pensava.

Os investigadores há muito que suspeitavam que a superfície marciana estava cheia de compostos oxidantes, o que dificultava a existência de moléculas complexas como os químicos orgânicos - os blocos de construção da vida como a conhecemos. Mas o novo estudo, que analisou dados recolhidos pela Phoenix da NASA, sugere que não é este o caso.

"Embora possa haver algumas pequenas quantidades de oxidantes no solo, o material bruto é na realidade bastante benigno," afirma Richard Quinn, autor principal do estudo que trabalha no Centro de Pesquisa Ames da NASA e no Instituto SETI em Mountain View, Califórnia, EUA. "É muito semelhante a solos moderados que encontramos cá na Terra."

Os astrobiólogos há muito que se interessam pela caracterização dos solos em Marte, para ajudar a determinar se a vida pode ou não ter-se desenvolvido no Planeta Vermelho.

A missão Phoenix da NASA, que custou 420 milhões de dólares, deu-nos muito que pensar no que toca a este assunto. Aterrou perto do pólo norte marciano no final de Maio de 2008, e recolheu uma variedade de observações ao longo dos cinco meses seguintes. A Phoenix é famosa por ter confirmado a existência de água gelada em Marte, mas também fez muitas medições interessantes do solo. Uma envolveu a acidez da poeira marciana, ou o seu nível de pH.

"Nós não fazíamos ideia de qual seria o pH," afirma Quinn. "Havia quem acreditasse que seria muito ácido." Mas apenas um mês passado depois da aterragem, a Phoenix descobre que a poeira no seu local era relativamente básica, com um pH que ronda os 7,7. A missão também detectou vários químicos que podiam servir como nutrientes para formas de vida, incluindo o magnésio, potássio e cloreto.

Estas descobertas intrigaram os cientistas, sugerindo que o solo marciano é talvez mais hospitaleiro à vida microbiana do que se pensava. E os novos resultados fornecem mais evidências nestas linhas. A Phoenix fez esta e outras descobertas usando o seu laboratório a bordo. Recolheu solo marciano e depositou-os em pequenas amostras com água trazida da Terra, que de seguida analisou.

Quinn e seus colegas estudaram os dados obtidos pela Phoenix em 2008, focando-se desta vez em medições do potencial de oxidação-redução dos solos marcianos. A oxidação refere-se à libertação de electrões. É um processo destrutivo que pode quebrar moléculas complexas como o ADN, que é a razão por que precisamos de antioxidantes como parte de uma dieta regular.

Os cientistas tinham razões para pensar que o solo marciano podia ser altamente oxidante, acrescenta Quinn. Em meados da década de 70, as sondas Viking misturaram compostos orgânicos com solo marciano, e os químicos pareceram decompor-se. A própria Phoenix detectou uma molécula chamada perclorato, que em várias condições pode ser um forte oxidante. Mas os novos resultados, anunciados o mês passado na revista Geophysical Research Letters, pintam uma imagem mais alegre do solo do Planeta Vermelho no que toca à habitabilidade.

"Quanto estudamos toda a composição do material, e medimos a reactividade global desse solo em solução, é comparável ao que se descobre em solos terrestres, solos da Terra," afirma Quinn. "Por isso segundo este ponto de vista, não é um ambiente extremo."

Os resultados não provam a existência de vida marciana, presente ou passada. No entanto, esta e outras descobertas - incluindo evidências obtidas pela câmara HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment) a bordo da Mars Reconnaissance Orbiter da NASA, de que água líquida pode ter percorrido mesmo por baixo da superfície marciana o ano passado - tornam os cientistas cada vez mais esperançosos.

"As evidências da equipa da HiRISE, de que possa haver fluxo sazonal de água nalguns locais, combinadas com esta medição que mostra que quando o solo está molhado, na realidade não são condições nada duras - são muito positivas em termos do potencial para a vida," conclui Quinn.

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