quarta-feira, 2 de junho de 2010

NOVA TEORIA PODE EXPLICAR SUPERROTAÇÃO DE VÉNUS


(Astronomia On Line) Um dos mistérios do nosso Sistema Solar é a superrotação, um fenómeno conhecido desde os finais dos anos 60, no qual os ventos de Vénus sopram mais depressa que a velocidade de rotação do planeta. Os cientistas propuseram já várias teorias, mas nenhuma foi completamente satisfatória. Agora cientistas do México sugeriram, pela primeira vez, um mecanismo viável pelo qual um vento ainda mais rápido, por cima do planeta, alimenta a superrotação.

Uma rotação completa do planeta Vénus demora 243 dias terrestres, mas a atmosfera, viajando a velocidades de aproximadamente 200 m/s, demora apenas quatro dias terrestres a completar uma volta. O outro único local no Sistema Solar onde a superrotação atmosférica é comum é na lua de Saturno, Titã.

Cientistas da Universidade Nacional Autónoma do México, liderados por Héctor Javier Durand-Manterola, têm estudado as velocidades supersónicas dos ventos na ionosfera entre 150 e 800 km por cima da superfície. Os ventos, conhecidos como o fluxo "transterminador", viajam a vários quilómetros por segundo. Foram descobertos nos anos 80 pela sonda americana Pioneer Venus e pensa-se que sejam alimentados pela interacção com o vento solar.

Durand-Manterola e a sua equipa propõem que o fluxo transterminador na criosfera possa transferir momento de fluxo para a atmosfera por baixo na forma de ondas de pressão à medida que se dissipam. Propõem que a interacção do lado nocturno entre o fluxo no lado do amanhecer e o fluxo do lado do anoitecer gera ondas porque fluem a velocidades diferentes, sendo o lado do anoitecer muito mais rápido.

As ondas viajam desde a ionosfera, através da termosfera e mesosfera até à troposfera depositando a maioria do momento e dissipando-se na camada de nuvens, movendo a atmosfera numa direcção retrógrada e alimentando a superrotação.

A equipa calculou o fluxo energético que transporta o fluxo transterminador e comparou com a energia calculada perdida pela viscosidade da atmosfera. Estes cálculos mostram que existe energia suficiente no fluxo transterminador para contrariar a viscosidade e alimentar a superrotação. Depois calcularam a amplitude que as ondas precisariam de ter para induzir a superrotação e descobriram que a amplitude necessária produziria 84 dB no lado nocturno, o suficiente para manter um "rugido" nas nuvens do lado nocturno - semelhante a uma orquestra tocando em "fortissimo".

Os investigadores testaram as suas teorias de transferência energética numa experiência usando água. Dirigiram um jacto de água para um lado de uma camada de poliestireno a partir de uma altura de 0,2 m, o que criou um fluxo que irradiava para fora a 2 m/s. Depois, dirigiram um segundo jacto de água para o outro lado da camada, desta vez a 0,02m, e isto criou um fluxo radial de 0,63 m/s. Ocorreu turbulência na área onde os dois fluxos interagiam e foram observadas ondas superficiais que se moviam do fluxo mais rápido para o fluxo mais lento, o que demonstrou que nesta analogia o momento das ondas viaja na direcção prevista.

O satélite meteorológico Akatsuki, que foi lançado pelo Japão a semana passada, deverá chegar a Vénus em Dezembro e poderá esclarecer um pouco mais estas questões.

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