(JB) A instalação de uma base espacial em Marte ainda está longe de acontecer, mas isso não impede cientistas de planejarem o seu jardim. Experiências realizadas no espaço e em condições semelhantes às de Marte simuladas na Terra geraram micro-organismos que podem fertilizar o solo marciano, gerar oxigênio, purificar água e reciclar lixo. Pode-se pensar nessas colônias de compostos orgânicos como os primeiros jardins de Marte.
Karen Olsson-Francis do Instituto de Pesquisa de Ciências Espaciais e Planetárias da Open University em Milton Keynes, Reino Unido, integra uma equipe que submete organismos terrestres a um estresse extremo. O grupo conduziu experiências na Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês), como parte da missão Biopan VI promovida pela Agência Espacial Europeia (ESA, em inglês).
A Biopan era uma cápsula que carregava com – entre outras coisas – amostras de rochas do sudoeste da costa da Inglaterra. Ela foi transportada pela nave russa Soyuz para a órbita terrestre baixa em 2007. Uma vez lá, a cápsula expôs seus conteúdos ao vácuo do espaço. Essas rochas inglesas são abrigo para amplo espectro de micróbios, incluindo cianobactérias fotossintéticas.
Quando as amostras de Biopan foram recuperadas, elas tinham resistido dez dias à exposição no espaço. A radiação solar ultravioleta letal tinha sido quase toda filtrada. A equipe descobriu uma cianobactéria nova para a ciência que tinha sobrevivido à viagem.
As experiências não foram criados com jardins espaciais em mente, mas as descobertas deles são relevantes. Os altos níveis de radiação ultravioleta em Marte esterilizam qualquer coisa deixada na superfície. Então, os jardins espaciais precisariam da proteção de estufas especiais.
– Os experimentos demonstraram que podemos usar a órbita terrestre baixa para selecionar organismos resistentes que possam ser usados em aplicações espaciais – explica Karen.
Rochas postas em órbita também fornecem apoio para a hipótese de que células vivas podem ser transportadas pelo espaço em meteoritos. Impactos de meteoros num planeta podem lançar fragmentos de rochas contendo micro-organismos – o que teria acontecido na Terra há bilhões de anos, segundo algumas teorias. Se estes organismos podem sobreviver ao vácuo do espaço, eles terão também como crescer de novo, caso cheguem a um planeta árido com condições favoráveis – o que seria o caso de Marte.
Os organismos nos jardins marcianos planejados vão, obviamente, ser transportados por uma nave espacial. As cianobactérias realizam a fotossíntese, o que as transforma em boas candidatas para uso em missões espaciais de longo prazo ou em postos avançados no espaço. Por essa razão, as cianobactérias são parte de um sistema sendo criado pela ESA para reciclar resíduos humanos, transformando-os em água, oxigênio e nutrientes para uso de colonos marcianos.
Marte reúne algumas condições que deixam estes cientistas otimistas. No equador marciano, no meio do verão, a temperatura pode chegar a 20 graus Celsius, e a atmosfera tem 95% de dióxido de carbono na sua composição, um requisito essencial para organismos que fazem a fotossíntese – basta lembrar que as plantas transformam o CO2 em oxigênio. Mas faltando um ingrediente fundamental para um jardim em Marte: o solo.
O primeiro jardineiro em Marte poderia derramar fertilizantes em rochas marcianas. Experiências usando rochas da Antártica mostraram que plantas podem crescer dessa forma. No prazo mais longo, contudo, é preciso encontrar um jeito de transformar o basalto vulcânico, que forma a maior parte do solo marciano, em uma superfície que sustente plantas.
– Bactérias que se alimentam de basalto poderiam ser a resposta – sugere Paul Wilkinson, da Open University. – Os verdadeiros reis do processamento de rochas são os líquens.
Líquens que colonizam rochas estavam entre os organismos que sobreviveram à exposição espacial na experiência Biopan.
Os astrobiólogos falam seriamente em criar condições semelhantes às da Terra em Marte. Aos poucos, surgem os elementos de um projeto inicial para os primeiros colonos. Sob uma estufa pressurizada e povoada por micro-organismos que vão fornecer oxigênio e alimento, além de transformar rochas marcianas em solo fértil, o primeiro jardim alienígena não está tão distante quanto parece.
No Centro Espacial John F. Kennedy, no dia 15 de abril, o presidente Barack Obama reafirmou a intenção americana de enviar humanos a Marte ainda neste século. Para isso, os jardins marcianos vão ser fundamentais.
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