Concepção artiística do 24 Themis: asteroides podem ter trazido parte da água da Terra
(iG) Pela primeira vez, cientistas encontraram gelo com material orgânico na superfície de um asteroide, o 24 Themis. A descoberta causou surpresa, e com ela, os pesquisadores acreditam que é possível associar o impacto de asteroides com a Terra à origem da água no planeta. A descoberta, publicada na revista científica Nature, foi feita por duas equipes independentes lideradas por pesquisadores americanos. Um dos estudos contou com a participação da astrônoma brasileira Thais Mothé Diniz.
A descoberta foi feita com a análise da radiação infravermelha proveniente do asteroide, por meio do Telescópio Infravermelho Facility da Nasa, no Havaí. Como os asteroides não emitem luz própria, os pesquisadores checaram a luz solar refletida pela superfície do 24 Themis. Dependendo do tipo de superfície, alguns comprimentos de ondas são absorvidos e outros não. Desse modo, os pesquisadores conseguiram concluir a composição química do corpo celeste.
"Já suspeitávamos que alguns asteroides continham gelo em seu interior. Essa descoberta pode ser a primeira prova disso", disse em entrevista ao iG o coordenador do um dos estudos, Andrew S. Rivkin, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos. Já o coordenador da outra pesquisa, Humberto Campins, da Universidade da Flórida Central, aposta: “Asteroides como esse podem representar a fonte da água na Terra. Ela provavelmente era muito seca quando se formou. Com impactos contra o planeta, os asteroides podem ter trazido seu gelo e as moléculas orgânicas que permitiram que a vida se formasse e evoluísse na Terra", descreveu ao iG.
Mas Rivkin relativiza: ”É pouco provável que toda a água da Terra tenha vindo de asteroides. Parte dela também pode ter vindo de cometas. Isso teria acontecido muito no início do sistema solar, há mais de 4 bilhões de anos. Quaisquer crateras desse período podem ter sumido por erosão ou movimentação da crosta terrestre.”
Os pesquisadores acreditam que nunca tinham detectado água em asteroides porque estes são objetos rochosos com superfícies relativamente quentes. Se eles contivessem gelo, este teria sublimado. "Por estar mais longe do Sol do que a maioria, ele foi capaz de reter o gelo na superfície", conta o pesquisador. O 24 Themis está localizado no Cinturão de Asteroides entre os planetas Marte e Júpiter e é um dos maiores da região. "Além disso, esse gelo do asteroide 24 Themis poderia ter sido formado ao mesmo tempo que o Sistema Solar, o que nos dá a chance de analisar um material que permaneceu inalterado antes da Terra ser constituída", diz Rivkin.
A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e astrônoma do Observatório do Valongo (UFRJ), Thais Mothé Diniz, que estuda o Cinturão de Asteroides, participou da pesquisa coordenada por Campins. “Esta descoberta é muito importante, pois rochas caem do espaço desde os primórdios da Terra, e se estas rochas continham água e moléculas orgânicas quando caíram, então podem ter tido papel importante na formação da vida na Terra,” avalia.
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