Um pequeno telescópio para uma grande mancha: O astrônomo amador Anthony Wesley fornece pistas a observadores profissionais em grandes telescópios institucionais sobre uma nova macha em Júpiter, provavelmente provocada por um grande impacto. Na foto tirada por ele, a marca aparece como uma mancha escura no topo da imagem.(Scientific American Brasil) Anthony Wesley, astrônomo amador australiano, anunciou na segunda-feira passada uma descoberta fantástica sobre um aspecto novo na superfície gasosa de Júpiter ─ uma nova mancha, confirmada posteriormente por astrônomos de universidades e da Nasa como resultado de um impacto recente no planeta gigante.
Wesley montou um telescópio newtoniano de 36,8 cm voltado para Júpiter, no quintal de sua casa, em Murrumbateman, quando percebeu algo incomum: uma mancha escura nas camadas externas do planeta, que não estava lá dois dias antes. Por causa de sua localização, dimensão e velocidade de rotação, a mancha não poderia ser confundida com nenhuma das luas de Júpiter ou suas sombras, nem com qualquer um dos padrões específicos de sua atmosfera. Observações de impactos massivos de cometas ou asteróides são extremamente raras ─ quando o cometa Shoemaker-Levy 9 se precipitou em Júpiter, em 1994, por exemplo, foi um evento inédito observado intencionalmente por inúmeros observatórios.
“Seria realmente uma marca de impacto em Júpiter?”, relatou Wesley em suas observações. “Não tenho ideia do que possa ser. E a probabilidade de flagrar um acontecimento como esse é tão pequena que chega a ser engraçado; mas eu estava realmente empenhado em encontrar uma explicação viável, levando em conta a localização da mancha”.
Após fotografar o planeta, enviou e-mails para outros colegas amadores com imagens do que ele tinha concluído ser a marca de um impacto recente. Leigh Fletcher, astrônomo do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, em Pasadena, Califórnia, fazia parte de um grupo que observava com o telescópio infravermelho da Nasa em Mauna Kea, no Havaí, quando ficou sabendo da descoberta inusitada de Wesley. E, casualmente, o grupo de Fletcher, que trabalhava remotamente em Pasadena, estava posicionando o telescópio de 3 metros na direção de Júpiter para observar tempestades.
“Você pode imaginar a cena: todos nós ficamos alucinados, amontoados em volta da tela do computador para ver as primeiras imagens do telescópio,” observa Fletcher. “E lá estava ela: uma marca extremamente brilhante no hemisfério sul de Júpiter.” Ela se parecia com um dos impactos ─ de dimensões médias ─ do Shoemaker-Levy 9, comenta Fletcher, confirmando a avaliação de Wesley.
Paul Kalas, astrônomo da University of California, em Berkeley, também tinha tempo de observação agendado no telescópio Keck 2, de 10 metros de Mauna Kea, quando ele e seus colegas tomaram conhecimento da descoberta de Wesley, no blog de Franck Marchis, seu colega em Berkeley. Kalas e seu grupo usariam o Keck para observar o exoplaneta Fomalhaut b, cerca de 25 anos-luz de distância (Fomalhaut b foi um dos primeiros planetas extrassolares, cuja órbita foi confirmada por fotografias, em novembro).
Kalas e seus colegas utilizaram cerca de 90 minutos do tempo de observação de Fomalhaut para checar a descoberta de Wesley. O que viram foi indiscutivelmente uma mancha com forte brilho no infravermelho, onde alguma coisa tinha atingido as camadas externas de Júpiter. “Concordamos com o astrônomo amador que esse foi um evento de impacto”, observou Kalas.
“A atmosfera de Júpiter está disposta em camadas ─ com uma superposição de nuvens e, acima delas, uma camada atmosférica absorve radiação infravermelha. Assim, nesses comprimentos de onda, Júpiter parece escuro”, explica Kalas. “Se alguma coisa foi arremessada através da atmosfera, atingindo as nuvens abaixo e ejetando matéria como uma pluma gigante, então de repente esse ponto começa a brilhar no infravermelho.” Fletcher acredita que a marca deve desaparecer nos próximos dias ou semanas, dando aos astrônomos uma ideia da recuperação meteorológica de Júpiter em tempo real.
O grupo de Kalas e outros terão muito trabalho pela frente, para analisar os dados coletados de vários telescópios e tentar seguir o caminho inverso do processo para descobrir que tipo de impacto ocorreu “O evento é tão recente, que não creio que as pessoas já tenham se dado conta do desenrolar dos acontecimentos,” avalia Kalas.
Qualquer que seja a causa, a ocorrência de um fenômeno tão raro, exatamente 15 anos depois de o Shoemaker-Levy 9 estar no meio do bombardeio a Júpiter, é uma benesse para os cientistas planetários. “Estas foram as duas únicas ocorrências de impacto observadas em Júpiter”, observa Fletcher, “mas será extremamente intrigante, se pudermos ver mais uma, ainda durante nossas vidas”.
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